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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

HERDEIROS DE SEPÉ


No último final de semana, estivemos participando de mais um belíssimo festival: o 6º Gruta em Canto, em Nova Esperança do Sul.
Lá, Robson Garcia (autor da melodia) interpretou a milonga "Herdeiros de Sepé", tendo a seu lado no palco os violões de Érlon Péricles e Fabrício Benitez e o guitarrón de Juliano Moreno.



Abaixo, a letra:

HERDEIROS DE SEPÉ
(Letra: marcelo d´ávila
Melodia: Robson Garcia)

Os pés descalços ainda são os mesmos
Andando a esmo nos beirais da estrada
Os trapos gastos é que são diversos
Da velha força guarani: mais nada.

Mesmos os olhos, mesma a tez da pele,
Igual a luta pelo pão diário;
A mão aberta, estendida a palma,
Espera em vão, o gesto solitário.

É o mesmo sangue do ancestral guerreiro
Que ousou gritar que a pampa tinha dono;
E em vez de ter a terra prometida
Herdou apenas fome e abandono.

Ficou, da velha raça guarani,
Somente a pele, o olhar, os pés descalços
Pois seus herdeiros trazem a incerteza
De haver sonhado tantos sonhos falsos.

Hoje vagueiam pelos vãos das pontes,
Vendem balaios, pedem caridade;
Pra quem, um dia, foi dono da terra
Restou o frio concreto da cidade.



Gracias ao time todo - e à comunidade de Nova Esperança do Sul pela recepção e carinho com que fomos tratados. E parabéns a todos os vencedores.
Fotos de Cláudia Albornoz.


marcelo d´ávila

terça-feira, 31 de julho de 2012

DIÁLOGO DE LUZ E SOMBRA








Depois de seis meses sem atualizar o blog, é com muita satisfação que o faço com mais uma premiação: desta feita, na 32ª Coxilha Nativista de Cruz Alta (o festival mais longevo do Rio Grande, sendo realizado de forma ininterrupta nestes 32 anos).
"Diálogo de Luz e Sombra", rasguido doble em parceria com Juliano Moreno, levou, além do primeiro lugar, as premiações de Melhor Arranjo Instrumental, Melhor Conjunto Vocal e Melhor Instrumentista (Clarissa Ferreira, no violino). Premiação ainda mais valorizada pelo alto nível das composições presentes.
Gracias mil ao time que a defendeu no palco, de forma brilhante: Juliano Moreno e Gustavo Teixeira (intérpretes), Daniel Cavalheiro e Edilberto Teixeira Neto (violões), Cristian Camargo (guitarron), Carlos de Césaro (contrabaixo), Fabrício Pedroso (acordeom cromático) e Clarissa Ferreira (violino).
Muchas gracias também ao povo de Cruz Alta e à organização da Coxilha, impecável (Comissão Social Nota 10!). Ainda, Clarissa Moura, Marçal Furian, Marco Aurélio Vasconcellos, Telmo Vascocelos, Juliana Miranda, Juliana Camargo, Robledo Martins, Juliana Spanevello, Joca Martins, Marcelo Oliveira, Guga Carrera, Vilmar Vila de Menezes, Dodo Gonzales, Zeca Alves.
E gracias, sempre e especialmente, à minha prenda, Cláudia Albornoz.

DIÁLOGO DE LUZ E SOMBRAS

(Honório):
- Quem chega em meu rancho sem dar “Ó de casa!” –
Com passos pesados, embora em silêncio?
Envolto num poncho de noite sem lua,
Pilchado de sombras – será quem eu penso?


(“O Outro”):
- Se enxergas meu vulto de bota e bombacha,
É só uma forma, das muitas que tenho:
Meu nome não digo, nem mostro meu rosto
Mas sei que imaginas quem sou e a quê venho.

Em cada refrega estive a teu lado
No Passo do Guedes, no teu Caverá –
Agora é o momento da paz derradeira:
Meu zaino te espera do lado de lá.

(Honório):
- Meu nome é Honório, me chamam Leão!
Tracei meus caminhos a ponta de adaga!
(“O Outro”):
- Descansa tuas armas, vem junto comigo,
Que a vida é candeeiro que um dia se apaga!

(Honório):
- Nas minhas batalhas venci tantas vezes
Em outras sofri o amargo revés.
Mas este combate já sei que é perdido
Porque finalmente percebo quem és.

- Gastei meus outonos em bárbaras lutas,
Tingindo de sangue o Ibirapuitã
E bem quando chegas, buscando por mim,
Vislumbro o horizonte de um novo amanhã.

(“O Outro”):
- O corpo cansado já pede repouso,
O braço fraqueja empunhando a garrucha.
Te levo comigo mas deixo gravado
Teu sonho imortal na alma gaúcha.

(“O Outro”)
- Teu nome é Honório, te chamam Leão!
Teus feitos ficaram na tarca da história!
(Honório):
- Estende tua mão: vou junto contigo,
Meu tempo é passado! O resto é memória.





marcelo d´ávila



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ESSAS MENINAS



Entendo que a missão do poeta é passar algum tipo de mensagem a quem o ouve ou lê. Relembro, sempre, o verso de Hernandez no épico Martin Fierro: "...yo canto opinando / que es mi modo de cantar".
Pois neste final de semana aconteceu a 30ª Gauderiada de Rosário do Sul. Participei com a zamba "Essas Meninas", em parceria com Tuny Brum.



Roland Barthes dizia que a poesia deve ser "fruto de um surto". Ignoro se "Essas Meninas" foi um surto; mas, com certeza, foi difícil e doloroso compô-la, por seu teor. Tuny foi brilhante ao colocar a melodia.
Brilhante também foi Analise Severo, a quem agradeço imensamente. Uma aula de interpretação; muito mais que voz, Analise foi toda emoção e sentimento no palco.






Por fim, agradeço a todo o time que levou a zamba ao palco: Analise, Tuny, Marcelo, Paulinho, Ithi e Elias. Gracias mil. E, especialmente, à minha fotógrafa favorita, minha prenda Cláudia Albornoz (autora de todas as imagens postadas).



Abaixo, a letra:

ESSAS MENINAS

No brete escuro
De cada rua
A luz da lua
É um clarão que se insinua
Iluminando a silhueta pequenina
Dessas meninas
Que se vendem nas esquinas.

Não são mulheres
Nem são crianças:
A esperança se perdeu
Num quarto escuro;
Foram-se os sonhos
E quebraram-se os brinquedos
Ficou o medo
E a incerteza no futuro.

Igual aos rios que tem seus cursos desviados
Matando a sede das sementes pelas tardes
Essas meninas têm roubada sua infância
No cotidiano indiferente das cidades.

Nas avenidas,
Pelas esquinas,
Essas meninas
Vão cumprindo
Suas sinas:
Tropa perdida
Entre refregas
E disputas
Que a vida bruta
Abandonou na reculuta.

Igual aos rios que tem seus cursos desviados
Matando a sede das sementes pelas tardes
Essas meninas têm roubada sua infância
No cotidiano indiferente das cidades.





segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

PRA INGLÊS VER

Bruna, nossa filha, vai passar 3 semanas na Europa (Londres, Edimburgo, Paris)fazendo intercâmbio e estudando inglês. A pedido dos coordenadores, planejou, desenvolveu e editou um vídeo para divulgar o Rio Grande por lá. As fotos, em sua maioria, são de minha esposa, Cláudia Albornoz ( http://www.click-chique.blogspot.com ) e a música é "Quando o Rio Grande Corre Pelas Veias", parceria minha com Robinho Garcia (vencedora da XIX Tertúlia Nativista de Santa Maria)


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

GRACIAS, ZÉ CLÁUDIO



Na 9ª Tertúlia Nativista de Santa Maria, em 1988, com 19 anos (eu jamais imaginava ganhar este festival um dia...), tive a oportunidade de ver e aplaudir em pé a composição "De Como Cantar Um Flete", letra de Gaspar Machado e melodia de Lúcio Yanel. No palco, dois gigantes: o próprio Lucio (que saiu do ginásio de ambulância, com uma isquemia cerebral transitória) e Zé Cláudio Machado. Por estas e outras, hoje agradeço ao mestre que nos deixa - e quem, por desventura, não conheci pessoalmente: Gracias, Zé Cláudio.
Abaixo, uma pequena homenagem diante da enormidade artística de Zé Cláudio.


Quantos cavalos quedarão sem garras?
Quantas guitarras em silêncio triste?
O próprio campo perderá seu gáudio
Porque Zé Cláudio já não mais existe.

Quantas cordeonas com seus foles rotos?
E quantos potros sem provar esporas?
Não mais milongas ternas em prelúdio
Porque Zé Cláudio já se foi embora.

Mas para sempre ficará o encanto
Daquele canto forte como um cerno –
É o Rio Grande em seu valor mais áureo
Porque Zé Cláudio já nasceu eterno.



terça-feira, 15 de novembro de 2011

QUANDO O RIO GRANDE CORRE PELAS VEIAS



"Quando o Rio Grande Corre Pelas Veias", milonga em parceria com Robson Garcia, foi a vencedora da XIX Tertúlia Nativista de Santa Maria.
Gracias Robinho, Juliano Moreno, Daniel Cavalheiro e Volmir Coelho, pela dedicação e brilhantismo no palco.
Gracias, Fernando, Mano, Modesto, Guto, Saccol, Diahy, Gadea,Bibiana, Caiaffo, Volmaris, pelo apoio.
Gracias, especialmente, a minha prenda, Cláudia Albornoz, que amo cada dia mais.
Abaixo, a letra:

QUANDO O RIO GRANDE CORRE PELAS VEIAS

Nalgum fundo de campo da fronteira
Um índio bem montado mira ao longe
E a pampa inteira cabe nos seus olhos
Repletos de coxilhas e horizontes.

Há muito de querência neste homem,
Há séculos de história escrita em versos
E a herança da Campanha se reflete
Na simples amplitude de seus gestos.

A singeleza de cevar um mate
E alçar a perna pra espiar estrelas
É a liturgia do ritual campeiro
Quando o Rio Grande corre pelas veias.

Nalgum fundo de campo da fronteira
Com a proteção sagrada do chapéu
Um índio afina as cordas da guitarra
Olhando a pampa comungar com o céu.

Sou eu o homem que bombeia ao longe
Repleto de coxilhas e distâncias;
O campo é minha razão, é minha essência,
Porque eu sou eu e minhas circunstâncias.



Foto: Cláudia Albornoz