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quarta-feira, 30 de março de 2011

ALÉM DO MATE


Referência na música nativista na região da fronteira nos anos 80, o Grupo Os Andarilhos foi reformulado em 2008 por um de seus criadores, Clóvis de Souza. Acompanhando-o na nova composição, os músicos Gringo Otero, Waldir "Rato", Jefersom Rafaeal e Ederson Brochi. No mesmo ano, Os Andarilhos lançaram um novo trabalho discográfico, chamado "Carga Pesada". A faixa de número 13 é "Além do Mate", com letra minha e melodia do Clóvis.
Abaixo, a letra de "Além do Mate":

Que coisa linda
Se abraçar no pinho
E bordonear rasguidos
Com a luz da lua
A fazer as vezes
De candieiro antigo

Uma coruja pia
Em contraponto
Um sol em sustenido
Buscando um ninho
Embaixo das estrelas
Que lhe dê abrigo

Que coisa linda
Se abancar à sombra
De alguma figueira
Trançando rimas
Num sovéu de versos
Em ritual terrunho

É o catecismo
Dos poetas xucros
De alma galponeira
Que nos altares
De tantas tertúlias
Dão seu testemunho

Mas verso e pinho
Só terão sentido
Se semearem ânsias
De um novo tempo
Onde não falte erva
Pelos ranchos pobres

E além do mate
As bocas desnutritas
Sorvam a esperança
De que a palavra
Vale mais que o brilho
Enganador dos cobres

segunda-feira, 28 de março de 2011

ARGENTINO LUNA (1941-2011)



Na noite em que a lua cheia mostrou toda sua beleza, no ponto mais próximo da Terra, se fué Luna. Nascido Rodolfo Gimenez, em General Madariaga, foi um dos mais expressivos artistas do folclore platense.
Abaixo, colo seu poema "Palabras para mi Hija". Não é preciso dizer mais nada.

Hija si me caigo en el camino,
La muerte es una rodada...
Hija una cosa te pido...
Que me cuides la guitarra

Ella fue todo en mi vida,
Novia de mis noches largas
Con ella salí al camino
Para llenarme de magia
Con ella gané la ausencia
Sabiendo que me extrañabas

Pero al llegar de regreso
Puse estrellas en tu almohada
Me fui del niño hasta el hombre
Gané y perdí mil batallas
Peoncito de pocas letras,
Ella fué mi libro y mi aula

Andando por los caminos
Al recordarte lloraba
Y en algún pago lejano
Con ella me consolaba
Me cuidó del vino triste
Para que no me embriagara
Y bebió en mis alegrías
El vino de las distancias

Con ella vestí tu cuerpo
Pinté de blanco tu casa
Con ella te compré un libro
Para abrirte una ventana

Hija.... si anduve callao
No te faltó mi palabra
Aprendí que en los silencios
El ser encuentra la calma
Esto aprendí en los campos
En las noches de la pampa
Oyendo cantar al río
Sin decir una palabra

Entre tu mundo y mi mundo
Hay un mundo de distancia
Donde se acaba mi mundo
Empieza el de tu esperanza
Al tiempo no se lo ve
Pero se siente en la espalda
Yo voy con rumbo a la noche
Para vos comienza el alba

De las cosas materiales
Te dejo poquito o nada
Lo justo no será mucho,
No sobrará pero alcanza

Te dejo un camino recto
En dinero ni una deuda
Pagué todas las facturas
Que la vida me cobrara
Perdoné y me perdonaron
Con eso, con eso basta y alcanza

Ni más ni menos que nadie
Dudando entraré a la nada
Por eso quiero pedirte
No llores, no llores cuando me vaya
Piensa que me fui de viaje
Con un libro y la guitarra
Y que tardaré en volver
Porque esta gira es muy larga

Si quieres rezar por mí
Hija canta, canta
La ausencia es menos ausencia
Con una copla en el alma
Al partir te pido poco,
Mejor dicho casi nada
Hija, hija tan solo te pido
Que me cuides la guitarra.



Post dedicado a Jader Leal

sexta-feira, 25 de março de 2011

CENA RURAL IV




A natureza ensina
Na singeleza dos gestos:
E mesmo a quem tem a sina
De ter hábitos modestos
O campo não discrimina,
Não julga nem faz protestos
Feito as aves de rapina
Que vivem de comer restos.



Foto: Cláudia Albornoz, Estância do Madrigal.

Versos: marcelo d´ávila

domingo, 20 de março de 2011

POETAS GAÚCHOS I : LAURO RODRIGUES



Lauro Pereira Rodrigues nasceu em Santo Amaro do Sul no ano de 1918. Foi pioneiro ao criar e apresentar, com apenas 18 anos de idade, o primeiro programa radiofônico de atrações exclusivamente regionais, Campereadas, na Rádio Sociedade Gaúcha, programa que revelou para o Estado o cantor Pedro Raymundo.
Membro da Estância da Poesia Crioula, sua poesia, além do regionalismo, tem um forte viés de denúncia social e política, como provam os versos de "Aleluia", postados abaixo.
Eleito Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul, Lauro Rodrigues morreu em 17 de dezembro de 1978, em um acidente náutico nas águas do Guaíba sob circunstâncias nunca esclarecidas.

ALELUIA

Velho pampa lendário de outras eras,
onde se erguem lúgubres taperas,
tripudiando quais flâmulas de luto:
nessas tardes de junho, ao sol poente,
parece-me que sinto o que tu sentes
quando o silêncio do teu campo escuto...

A brisa nas carquejas do varzedo,
chorando, confessa que tens mêdo
de enfrentar esta miséria atroz...
E na tristeza sem fim dos corredores
vibram hinos de brados e clamores
contra as algemas da canalha algoz...

Mas não percebes, decrépito campeiro,
que as rondas do abutre carniceiro,
grasnam sobre ti funéreo agouro;
que és o braço do ¨Gigante¨ que mendiga
e ¨deitado em berço explêndido¨ se obriga
a pedir pão sob um dossel de ouro?...

Esquece as condições de teu presente!
Larga o trôpego andar do indigente
e relembra o que fostes em tempos idos...
Deixa a tua lança, adormecida e quieta!
A guerra é de doutrinas... Vem! Desperta
que os dias de porvir serão vividos...

Pois, pressinto na fome de meu filho
que um vulcão de revolta aclara o trilho
por onde segue a procissão dos pais...
Desperta Rio Grande! Chama o Brasil
antes que a voz da bôca de um fuzil
não lhe consinta despertar jamais...

Pobre Pátria de vinte e tantas zonas
que tem no seu ventre o Amazonas
e agoniza de fome nas cidades...
Zôo de macacos galhofeiros,
plagiando o viver dos estrangeiros
desde o Batismo à Universidade...

Tenho pena de ti, - senzala branca! -
dessa coletividade honesta e franca
que de tanto esperar já desespera...
Tuas vísceras são campos de imundícies,
onde o vírus malsão das canalhices
se robustece, cresce e prolifera...

Enquanto isso, cérebros raquíticos,
- sanguessugas de pântanos políticos! -
fomentam leis que não trescalam nada...
Mas não tarda que a aurora do futuro
tinja de escarlete o céu escuro
dos párias desta estância abandonada...

Nesse dia, meu pampa, os teus heróis,
ostentando nas mãos raios de sóis
e cavalgando fagulhas celestiais,
virão beber na fúria dos motins,
o sangue nutrido nos festins
dos que colheram sem semear jamais...

E, então, o marco de uma nova era,
surgirá num ermo de tapera
substituindo o pedestal de imbuia,
para que o povo todo num só grito,
possa bradar da Terra ao Infinito:
ALELUIA!...ALELUIA!...ALELUIA!...

Post dedicado à família Ortaça: Rose, Pedro e Gabriel.

Imagem do livro "Senzala Branca", Editora 3 Chirus, Porto Alegre, 1958.

sexta-feira, 18 de março de 2011

OS PIONEIROS III


Estanislao del Campo nasceu em Buenos Aires a 7 de fevereiro de 1834, sendo neto por parte de pai do Vice-rei Nicolás del Campo, Marquês de Loreto. Sua vida tranquila, animada apenas pelo vício da leitura, mudou subitamente em 1853, quando da revolta encabeçada pelo Cel. Hilario Lagos, o qual marchou sobre Buenos Aires com suas tropas rebeldes. Estanislao, então, passou a participar ativamente da política, abraçando a causa do Gen. Mitre. Dedicou-se ainda ao jornalismo, colaborando nos jornais El Nacional e Los Debates.
Recebeu o posto de Capitão após as batalhas de Cepeda (23 de outubro de 1859) e Pavón (17 de setembro de 1861), chegando a Coronel na Revolução de Mitre (1874). Em 1864 casou-se com Carolina Lavalle, sobrinha do General. Foi funcionário público, jornalista, deputado e empreiteiro, falecendo na cidade natal em 6 de novembro de 1880.
Sua iniciação poética data de 1857, ano em que foram publicados alguns versos de cunho gauchesco com o pseudônimo de Anastasio el Pollo. Uma vez que este apelido remetia ostensivamente a Aniceto el Gallo, que havia feito famoso Hilario Ascasubi, a crítica e o público atribuíram a este os poemas publicados. Ascasubi veio a público, através do jornal El Orden, para desfazer o malentendido e saudar o autor verdadeiro dos versos.
Del Campo utilizou o pseudônimo para inovar no gênero pampeano, mesclando o regional e o universal em sua obra Fausto, em que "el gaucho Anastasio el Pollo da sus impresiones en la representación de esta ópera" e de onde transcrevo os trechos abaixo:

Como a eso de oración,
aura cuatro o cinco noches,
vide una fila de coches
contra el tiatro Colón.

La gente en el corredor,
como hacienda amontonada,
pujaba desesperada
por llegar al mostrador.

Allí a juerza de sudar
y a punto de hombro y codo
hice amigaso de modo
que al fin me pude afirmar.

Cuando compré mi dentrada
y dí guelta...Cristo mío!
Estaba pior el gentío
que una mar alborotada.

Era a causa de una vieja
que le había dao el mal...
- Y si es chico ese corral
a qué encierran tanta oveja?

- Ahí verá: por fin, cuñao,
a juerza de arrempujón,
salí como mancarrón
que lo sueltan trasijao.

Y para colmo, cuñao,
de toda esta desventura
el puñal, de la cintura,
me lo habían refalao.

(...)

Adiante, narrando ao amigo Laguna a peça em si, Anastasio el Pollo descreve a cena em que o Doutor Fausto faz seu pacto com o diabo:

(...)

Viera el Diablo! Uñas de gato,
flacón, un sable largote,
gorro con pluma, capote,
y una barba de chivato.

"Aqui estoy a su mandao,
cuento con un servidor" -
le dijo el Diablo al dotor
que estaba medio asonsao.

"Mi dotor, no se me asuste
que yo lo vengo a servir.
Pida lo que ha de pedir
y ordenemé lo que guste".

El dotor, medio asustao
le contestó que se juese ...
- Hizo bien: no te parece?
- Dejuramente, cuñao.

(...)

Abaixo, reprodução da capa da edição de 1866, em benefício dos hospitais militares bonairenses:

terça-feira, 15 de março de 2011

ORIGENS DA POESIA GAUCHESCA III


A COPLA

As coplas eram criações populares anônimas submetidas a uma constante reelaboração coletiva e transmitidas oralmente. Bruno C. Jacovella, em seu livro "Folklore Argentino", assinala os fatores ou as causas que permitiram a conservação e a "sobrevivência" destas formas populares:
a) A brevidade e a intensidade expressiva das coplas;
b) A facilidade de guardá-las pelo elemento mnemônico de suas rimas;
c) Sua divulgação através de almanaques;
d) A propagação através de viajantes;
e) A possibilidade de recompilá-las sem preparação prévia.

Essas coplas ficaram, com o tempo, a resguardo quase exclusivo dos homens de campo. Em geral, os que as recordavam pertenciam às classes mais humildes, e eram provenientes de antigas famílias americanas assentadas nas diferentes regiões da Argentina a partir dos séculos XVI e XVII. Este grupo se mesclou em sucessivas gerações - tal como afirma o historiador Guillermo Terrera - com os indígenas puros, formando o elemento "criollo" autêntico.

Abaixo, exemplos de coplas de autores anônimos, dos séculos XVII e XVIII:

Cantan los gallos al día,
yo canto al anochecer;
ellos cantan de alegría,
yo canto no sé por qué.

* * *

Pobre mi pingo que pasa
conmigo la noche al frío;
a mí no me compadezcas,
compadécelo a mi pingo.

* * *

La china que yo les digo
no es malacara ni zaina
y en mi pecho está metida
como cuchillo en la vaina.

* * *

Cuando agarro la guitarra
y la atravieso en mis brazos
en seguida me parece
que se acaban mis trabajos.

* * *

Se me han acabao las coplas
y voy a mandar traer;
en mi casa tengo un árbol
que de coplas se ha´e caer.


Fonte: "El Cancionero Sentencioso y Reflexivo", Maria Cristina Planas e Maria del Carmen Plaza. Buenos Aires, 1988

Imagem: pintura a óleo de Prilidiano Paz Pueyrredón, pintor e arquiteto argentino (1823-1870). Graduado no Instituto Politécnico de Paris, projetou a Mansão de Olivos, as reformas da Pirámide de Mayo e da Casa Rosada. Filho de J. M. Pueyrredón, conhecido como "El Prócer de la Independencia".

domingo, 13 de março de 2011

SOS SÃO LOURENÇO


A cidade de São Lourenço do Sul, onde se realiza um dos principais eventos de música nativista - o Reponte da Canção - foi atingida recentemente por um enxurrada sem precedentes, deixando mais de 15.000 desabrigados. Testemunhos de quem esteve por lá ou manteve contatos com seus habitantes dão conta de que a situação é pior do que vem aparecendo na mídia. Barcos e animais ainda são retirados dos telhados de prédios de 2 ou 3 andares.
A comunidade artística sulriograndense vem ponteando uma campanha em prol do município, o SOS SÃO LOURENÇO - amplamente divulgada pela rede mundial de computadores - através de doações e shows solidários. Compositores e cantores como Zeca Alves, Fabricio Marques e Antônio Guadalupe Jr disponibilizaram trabalhos fonográficos para venda, com a doação da totalidade dos valores arrecadados para a comunidade lourenciana. De minha parte, estou enviando 50 exemplares de meu livro de contos (imagem abaixo), com o mesmo objetivo.
No Estado inteiro surgem postos de arrecadação de donativos:
PORTO ALEGRE - Crioulo Remates, Rua Eça de Queiroz 959 - Petrópolis
SANTA CRUZ DO SUL - Faculdade Dom Alberto
PELOTAS - Unimed Pelotas e Loja Gaúcho e Prenda
SANTANA DO LIVRAMENTO - Movilcor Livramento (com Hidelbrando)


Foto de São Lourenço: Nauro Júnior - ZH

quarta-feira, 9 de março de 2011

CENA RURAL III



Partiu um homem campeiro,
Mais um que morreu na lida:
Se na vida foi ginete,
Gineteou-lhe a própria vida.

Ficou no galpão da estância
Junto a uns recuerdos guardados
Um banco a esperar por ele
E os arreios pendurados.

Parece que o sol da tarde
Vem lhe fazer companhia
Iluminando o galpão
Pro mate do fim do dia.



Foto: Cláudia Albornoz, Janeiro de 2010
Versos: Marcelo D´Ávila

sábado, 5 de março de 2011

UM CANTAR PRA CENAIR


No ano de 1990, o músico uruguaio Miguel Villalba lançou em LP seu trabalho "Mi Viejo", com clássicos do cancioneiro latinoamericano - "KM 11", "Los Ejes de MI Carreta" e a composição que deu nome ao disco, entre outras. Também havia quatro faixas inéditas, "Fronteiriça" (vencedora da 4ª Tropeada de Livramento, em 1989), "Por Que Canto", "Noites de Pinho e Luar" e "Um Cantar pra Cenair", todas letras minhas com melodias do Miguel. Como homenagem ao grande Cenair Maicá, posto abaixo o poema de "UM CANTAR PRA CENAIR":

Calou tua voz missioneira
Que tantas vezes cantou,
Que tanta vez encantou
Pelas rondas galponeiras
E a guitarra companheira
Sentindo a dor do abandono
Chora a ausência de seu dono
Sabendo que já partiste
E entoa milongas tristes
Para velar o teu sono.

As águas do teu batismo -
O rio da tua mocidade -
Se revestem de saudade
Transbordando o gauchismo
E um cântico de lirismo
Com cheiro de Cabriúva
Respinga em gotas de chuva
A regar tuas sementes:
É um lamento de Corrientes
Às terras de Tucunduva.

Os campos de M´Bororé
Se agrandaram na distância
Te vejo na Grande Estância
Num galpão de Santa Fé
A matear junto a Sepé
O amargo da eternidade
Mostrando pra humanidade
Com a guitarra e a lança
O braseiro da esperança
E a chama da Liberdade!


Para baixar "Um Cantar Pra Cenair" e as demais composições de "Mi Viejo", LP de Miguel Villalba, em: http://www.4shared.com/file/Rz0imDuq/MIGUEL_VILLALBA_-_MI_VIEJO.htm

quinta-feira, 3 de março de 2011

ORIGENS DA POESIA GAUCHESCA II


Coplas, romances e canções de autores desconhecidos andavam profusamente pelos campos, serranias e selvas do antigo Vice-reinado do Rio da Prata. Para sua criação contribuíram, em primeira instância, os espanhóis, e, depois, os indígenas e ainda os negros. A influência espanhola, por sua vez, teve origem na Arábia, na Pérsia, no Império Bizantino, na Índia. Também os ciganos têm sua participação nos primórdios. De qualquer forma, os indígenas do Prata - calchaquís e guaranís, particularmente - aportaram muito de sua cultura.
O naturalista Félix de Azara já fala de cantores populares que, acompanhados de guitarra - ou charangos - cantavam coplas. Concolorcorvo, no seu já citado Lazarillo de Ciegos Caminantes, afirma haver ouvido cantar durante suas andanças algum changador, ou gauderio, ou guapo, ou camilucho - todos nomes coloniais do GAUCHO, trabalhador das antigas vaquerías.
Também se pode citar José Espinosa y Tello, que veio com sua expedição à América do Sul em 1794: descrevendo os guapos, diz: "...cantam umas raras seguidilhas que chamam Cadena ou El Perico, ou ainda o Mal-Ambo, acompanhados de uma desafinada guitarra. O talento do cantor é fundamental para ser bem recebido em qualquer parte e obter comida e hospedagem..."


Fonte: Poesia Gauchesca e Nativista Rioplatense, Álvaro Yunque, Buenos Aires, 1952
Imagem: Pintura a óleo de Emeric Essex Vidal, marinheiro, desenhista e pintor inglês (1791-1861); visitou a América entre 1814 e 1837, testemunhando, através de suas pinturas, os costumes dos países visitados.

terça-feira, 1 de março de 2011

ORIGENS DA POESIA GAUCHESCA I


A poesia tradicional no Prata e em toda a América remonta aos dias de conquista e colonização. Vem, em espanhol, dos velhos romances e das antigas canções dos séculos XVI e XVII, ainda com ecos do século XV; transmite a substância lírica dos villancicos e das coplas, e a épica dos cantares heróicos e cavaleirescos e se funde, em cada região, com as correntes da vida criolla (costumes, sensibilidade) e adquire uma fisionomia própria, um caráter local. A poesia gauchesca é posterior em quase três séculos; recebe da poesia tradicional uma porção considerável de ideias e sentimentos, mas tem identidade própria. Se apodera de um novo cenário, que é o campo aberto, e de um tipo novo, o gaúcho, e firma em ambas as fontes a razão de sua existência. Apesar das diferenças entre a poesia tradicional e a gauchesca, deve-se reconhecer também que, no aspecto formal, ambas têm uma notável semelhança na linguagem, caracterizada pelo predomínio do arcaísmo e das formas prosódicas vulgares, e a identidade do verso octassílabo e da estrofe, típicos da copla e do romance espanhol.
Embora não exista documentação abundante e segura, pode-se estabelecer suas origens no último terço do século XVIII. São os dados dos costumes que descreve Concolorcorvo em 1773 acerca dos campeiros coloniais, que ele chama gaudérios, em seu Lazarillo de Ciegos Caminantes (imagem). Estes rústicos, gozadores da vida, cantam e se fazem acompanhar da guitarra. Esta amostra de poesia campesina que nos oferece Concolorcorvo é espelho do sentimento pessoal e rústico de um meio primitivo.

Fonte: "La Poesia Gauchesca - Antologia Desde Sus Orígenes", Edición Especial de Octubre de 2002, Ediciones Quevedo, Buenos Aires.