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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

DIBUJOS DE DON FLORENCIO


Recebi o CD "Clube da Esquila", do Pirisca, de regalo da Mônica Boeira ( Gracias, Mônica! - http://twitter.com/#!/monicaboeira ); uma das faixas, "Dibujos de Don Florencio", do Cabo Deco, Pirisca e Tukano Netto, faz menção a Florencio Molina Campos, ilustrador argentino nascido em Buenos Aires, em 1891, e falecido na mesma cidade em 1959.


Florencio Molina Campos realizou sua primeira exposição na "Feria Ganadera de Palermo", em 1926: 61 telas e aquerelas com caricaturas, as quais vendeu todas. Com este sucesso, a Fábrica Alpargatas contratou-o para confeccionar seu almanaque no período de 1931-1936 e 1940-1945, constituindo a primeira pinacoteca argentina. Refletiu em sua obra temas da vida campeira argentina e dos gaúchos e "paysanos", temática que cultivou tanto em pinturas quanto em ilustrações e caricaturas. Seus trabalhos foram expostos em Paris, Nova Iorque e Los Angeles, tendo sido contratado por Walt Disney como Supervisor de seus desenhos animados em 1941. Ilustrou o "Fausto", de Estanislao del Campo (ver "Os Pioneiros").
Abaixo, algumas ilustrações do gênio.







Para visitar o site oficial: http://www.molinacampos.net




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

OS PIONEIROS V


CLAUDIO MAMERTO CUENCA foi um dos pioneiros de uma classe que vem revelando, ao longo do tempo, autores de qualidade ímpar, do quilate de um Aureliano de Figueiredo Pinto ou de um Balbino Marques da Rocha: os médicos poetas.
Nascido em Buenos Aires em 30 de outubro de 1812, iniciou seus estudos médicos na Universidad de Buenos Aires em 1838, onde publicou a tese "Las Simpatias en sus Relaciones con la Fisiologia, Patologia y Terapeutica". Sua discrição em revelar-se como poeta fez com que sua obra fosse publicada apenas em 1861, nove anos após sua morte.
Foi médico pessoal de Rosas, participando da Batalha de Caseros; enquanto atendia dois feridos atrás do Monte Palomar, foi crivado de balas pelo Tenente-coronel León Pallejas e pelo Capitão Tomás Larrogoitía, em 3 de fevereiro de 1852. No bolso de seu jaleco, ao morrer, foi encontrado um poema intitulado "Mi Cara".
O poeta Heraclio Fajardo compilou e publicou suas "Poesias Completas" em três volumes, no ano de 1961.
Abaixo, trechos de "El Pampero":

De las brisas y vapores
de aquel solitario suelo,
tan inmenso como el cielo
que allá entredivisa el hielo
de los Andes relumbrar;
y de los hálitos vagos
de los espíritus magos,
que en sus llanuras sin lagos
deben sin rumo vagar;

y de la bruma y del aire,
de la templanza y del frío,
la sequedad y el rocío,
el misterio y el vacío
de la llanura del sud;
naces, pampero, cual nace
todo aquello que Dios hace,
cuando a los designios place
de su eterna rectitud.

Y como hijo de la pampa
que ocupa medio hemisferio
y extiende hasta allá su imperio
donde ciñe el cielo aerio
de los Andes la alba sien;
eres como ella un coloso,
inconmensurable, asombroso,
genio inculto y misterioso
nacido en silvestre edén.

(...)


Imagem: "Interior de una Pulperia" (1862), de Juan Leon Palliere, pintor e litógrafo brasileiro de origem francesa (1823-1887); nascido no Rio de Janeiro, aos 7 anos mudou-se com a família para Paris e, em 1855, para Buenos Aires, onde vive por 10 anos. Com viagens frequentes a Montevideo, foi um estudioso da vida do campo, tornando-se um verdadeiro historiador gráfico de uma época.

sábado, 13 de agosto de 2011

A VOZ DO PAI


Na postagem do Bahstidores (http://bahstidores.blogspot.com) sobre o Dia dos Pais, escrevi que jamais consegui compor um poema em homenagem a meu pai, Dr. Cidiney Garcia Marques D´Ávila, falecido em 1998: sua ausência é muito maior que minha poesia. Nem sempre, mestre Pessoa, o poeta é um fingidor.
Por isso, tomo de empréstimo os versos de Odilon Ramos para homenagear todos os pais neste domingo.
Um grande abraço!

A VOZ DO PAI
Odilon Ramos

O pai, em casa, era uma autoridade.
Dizia o que podia e o que não podia.
Determinava o certo e o errado.
A voz do pai era uma voz sagrada.

Grave, pausada para dar conselho.
Firme e bem forte pra passar as ordens.
A voz do pai sabia contar causos...
Causos que ouvira seu pai contar.

Era uma vez... e lá vinha uma história...
com bichos que falavam, gente que voava,
magos poderosos e casas assombradas.
E a gente, tão criança e inocente,
galopava na garupa da imaginação.

Quanta emoção a voz do pai nos transmitia.
À mesa, hora da janta, ninguém se servia
antes de ouvir o pai, rendendo graças.
E a família, reverente, olhos fechados,
ao fim arrematava num... amém.

E os versinhos que o pai dizia.
Ninguém sabia tantos quanto ele;
"Eu sabia tanto verso,
Eu sabia um sacho cheio,
As formigas me bateram,
Me deixaram pelo meio".

E às vezes... às vezes o pai cantava.
E o pai cantando era a cantiga mais linda que eu ouvi....
Modinhas, hinos, ternos "oilarai"... e a filharada fazia coro.
E cada um com sua voz queria imitar a voz do pai.

A voz do pai tocava os bois na canga:
Barroso!... cola branca!... êra boi!...
E chamava o cavalo no potreiro: "ô, ô, ô, ô".
E atiçava o cachorro nos gambás:
"fiu, fiu, fiu, fiu", pega, pega, pega...
E os bichos (até os bichos)
Conheciam e obedeciam aquela voz...

A voz do pai tinha hora pra tudo.
Pra dar uma risada de um causo bem contado.
Ou pra ralhar se a gente desleixava...
Barbaridade...
Quando aquela voz trovejava uma ameaça,
Fazia a gente estremecer de medo.
Talvez fosse melhor dizer: respeito.

A voz do pai só nunca soube se queixar de nada.
Gemer até podia, se a dor era muita.
Chorar, se permitia, pelo sentimento.
Mas um queixume, uma lamúria ou maldição,
Isso jamais se ouviu da voz do pai.

"A la pucha"...
Parece que foi ontem...
É tão viva a lembrança,
Que parece que ainda ouço tua voz,
Meu velho...

E às vezes, quando falo com o meu filho,
Dou rédea ao sentimento e o som que sai
Me faz escaramuçar o coração no peito...
Pois ouço, de mim mesmo, a voz do pai!